terça-feira, 25 de dezembro de 2007


Dorme. Cala a dor, ainda que a marca a retenha fechada num silêncio qualquer.


A indignação: porquê?
A dor: pancada forte e seca.
A questão: é possível comer um prato de sopa imaginando que se come chocolate?
O fulcro: foi sem querer.
A mensagem: a luz do dia seguinte não conseguiu entrar no meu desejo ocular. As cores foram passando pela negra. Tive que me disfarçar; e se calhar alguns pensaram que era a vergonha com medo. Não, nunca poderia ter vergonha da Sofia: a causa, o efeito, a verdade.
O fim: rimo-nos muito depois de sangrarmos as duas. E constatámos: sim, é possível que o prato de sopa saiba a chocolate.

domingo, 18 de novembro de 2007

DINAMARCA

tEM a vaNTAGEM dA dISTÂNCIA: qUE pERMITE vER o qUADRO tODO. mUITO mAIS hAVERIA pARA dIZER e mOSTRAR; fICA o eSSENCIAL.
uM aNO aPÓS a vIAGEM, aQUI eSTÃO aLGUMAS iMAGENS.
as PESSOAS:

eU, o mADS, a kATJA, o pEDRO, o vITOR...


... e a cATARINA.


os LUGARES:

a sEREIA.

oPERA hOUSE - cOPENHAGA: uM lUGAR qUE sÓ sE tORNA iMPONENTE qUANDO lÁ ESTAMOS E veMOS a mAGNITUDE dE uMA cONSTRUÇÃO iNTEMPORAL

vER dE cIMA A cAPITAL: rECONHECER oS eSPAÇOS, aBSORVER O tODO.


pODIA cHAMAR-se aDDICTED cITY; dENTRO de cOPENHAGA, uM eSPAÇO: uMA aNTIGA bASE mILITAR qUE nOS aNOS 70 fOI tRANSFORMADA nA cIDADE da dROGA, do áLCOOL e do rOCK' n rOLL. a mÁXIMA, eSPALHADO eM cADA cANTO? "sAY nO tO hARD dRUGS".


aS SENSAÇÕES:

cAÍMOS lÁ dE cIMA: eM cINQUENTA mETROS sENTIMOS a aDRENALINA tODA, cOMO se A vIDA pUDESSE tER uM fIM e eSSE fIM fOSSE a gOSTO, dEVIDAMENTE eNRAIVECIDO. rEPETIRÍAMOS a pROVOCAÇÃO: sEM dúúúúúVIDA!


rESTA aGORA uM rASTO, uM mISTO DE sAUDADE e sUSPIROS cOM o cHEIRO dOS lUGARES, o sABOR do mAR do nORTE, de uMA cULTURA qUE nÃO é NOSSA da qUAL bEBEMOS aTÉ qUE a eSPUMA rEBENTASSE o oLHAR cOM qUE vEMOS o mUNDO eM nÓS; pARA nÓS.

Battles: Tonto

Absolutamente fantástico!

O um pelo outro


A propósito de comunicar.
A propósito de chegar a quem está do outro lado.
A propósito de emissores e receptores, canal e mensagem num meio que (também) somos nós. A propósito de tudo isto, estando incumbida de preparar uma acção de formação, descobri com mais detalhe Eugène Delacroix, grande pintor do romantismo francês, século XIX.
Delacroix, dizem, dramatizava os seus quadros; exagerava nas consequências dos cenários que o impeliam a pintar.

O exagero é a consequência do (des)contentamento, penso.

Mas a minha descoberta deste artista foi compulsada por uma frase que considero deliciosamente honesta. Diz Delacroix que «o homem é um animal sociável que detesta os seus semelhantes». Não é que seja algo de novo ou surpreendente; e, talvez por isso, me questione: porque é que se insiste em negá-lo? Porque é que todos nós teimamos em não perceber que somos mesmo assim?

Provavelmente, estará o leitor a pensar que sou instigadora de conflitos e/ou uma pessoa que detesta o seu semelhante. Não: não é de todo essa a minha natureza; antes pelo contrário.

Sou uma apaixonada pelo carácter, vigor e fragilidade humana. E precisamente por sê-lo é que acredito que nos devemos conhecer exactamente como somos. O problema de cada um de nós reside na falta de auto-conhecimento e na forma como encontramos sempre um motivo para nos desculparmos do que somos, sem nos olharmos de frente.

Paul Valéry – filósofo francês, escritor e poeta - dizia que os homens se distinguem por aquilo que mostram e assemelham-se por aquilo que escondem. É, de facto, mais fácil ocultar, negar; mais: renegar os nossos defeitos porque achamos que nos diminui. Mas a que é que isso nos leva, indago-me?

Na antiguidade grega, a máxima era a do culto pelo corpo e pela inteligência.
A perfeição residia, acreditavam eles, no equilíbrio entre estas duas vertentes. Não posso deixar de acrescentar mais uma: a que nos está mais próxima, aquela que nos é intrínseca – o Eu.

José Saramago retrata muito bem o âmago da humanidade quando se vê envolta numa situação trágica e inesperada. O cenário? «Ensaio sobre a cegueira». Uma forma sublime de mostrar ao que é que a humanidade chega, numa primeira instância no que respeita ao individualismo e, posteriormente, perante a desgraça, a miséria, o caos.
Por outro lado, temos o inconfundível Dostoievsky, com «Crime e Castigo», que penetra na essência da loucura individual quando já nada mais resta, a não ser o domínio dos pensamentos sobre o indivíduo.

O relacionamento humano é delicado, difícil e susceptível de ambiguidades, interpretações e dúvidas. A forma como lidamos connosco é também ela calcinada pela maré a que chamamos Os Outros.

Há dissemelhanças inegáveis entre homens e mulheres; há.
Há diferenças entre povos, sociedades e épocas; há.
Mas falar de tudo isto, desta forma, é generalizar o que não é generalizável.
E Delacroix, e Valéry generalizaram.
E eu gostei.
E fiquei presa ao pensamento que me talha também a vida.
E tudo isto veio a propósito de comunicar.
Porque tudo isto é comunicar.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O culto pela imagem como fonte de transmissão de aparências e valores não é de agora. Alexandre Magno, o Grande (356 a.C a 323 a.C.), foi o primeiro homem a ter uma ideia visionária daquilo a que agora se chama Identidade Corporativa: cunhou moedas com o seu próprio rosto e, pelos sítios que conquistava, deixava a marca indelével com algo de que todos necessitavam - dinheiro.
Temos também o exemplo de todo o domínio romano e o tremendo culto pela boa condição física e pelas esculturas dos dirigentes do Império, que perpetuam ainda uma cultura no tempo. E actualmente, assistimos à proliferação em massa de publicidade e marketing a produtos – todo o tipo – que zelam não só por um corpo bonito e saudável, como por uma sensação ilusória de pertença, denominada falso valor de uso.
Perante estes exemplos que demonstram a transversalidade da temática apercebemo-nos com alguma facilidade da importância que a aparência representa, nas mais diversas vicissitudes. Imagem é acima de tudo a construção de uma identidade que se aplica a tudo o que se pretende transmitir para o exterior. Justo Villafañe, especialista em Comunicação Corporativa, aborda no livro «Imagem Positiva» toda uma temática inerente à gestão estratégica da imagem das empresas, entre as quais a gestão de crise. Para as grandes empresas multinacionais é já indispensável o denominado Gabinete de Comunicação: um conjunto de pessoas que se debruçam ao pormenor na forma - e no conteúdo - como são transmitidas todas as mensagens para o exterior e para o próprio público interno. É inegável o seu valor, não só pelo controlo que daí advém, como principalmente por nada ser feito ao acaso.
A este propósito, Albert Delpit, escritor e poeta, lança-nos o repto: «O mundo julga-nos, não pelo que somos, mas pelo que parecemos ser».
Toda esta construção da imagem, assume nos dias que correm contornos inimagináveis. Vejamos por exemplo o que está a acontecer com o Caso McCann. É a história mais mediática de sempre relativa ao desaparecimento de uma criança. Independentemente de estarem ou não envolvidos no desaparecimento da filha, há que admitir a sua extrema inteligência pela forma como, desde o início, lidaram com a Comunicação Social, revertendo-a sempre a seu favor e não deixando esquecer a história. Mas, no cuidado com que sempre se mostraram, algo começou a falhar. Subitamente a crise; a crise do chamado furo jornalístico face às dúvidas e provas recolhidas pela Polícia Judiciária. A Imagem ficou ferida e os pais da menina não hesitaram: têm actualmente quatro assessores de comunicação, um deles que deixou o gabinete do primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, para se dedicar ao caso.
Muito para além da culpabilidade ou não dos pais de Maddie, o que é que está aqui em causa? A Imagem. O julgamento popular. A reconstrução de um casal em risco de ser posto de parte pela opinião pública que, quando não é amigável, pode tornar-se cruel e acutilante.
Creio, pois, que não é demais referir que não é só em Nações, Impérios, Empresas e na Publicidade e Marketing que a construção da aparência dá de comer aos povos e públicos-alvo. Tudo é susceptível de ser aparentado. Não como reflexo do que somos, mas como meta do que queremos atingir. Na época que corre, tudo é Imagem: imagem e comunicação; imagem e construção.
in Empreender

domingo, 30 de setembro de 2007

O Nelson entrevistou-me*(abrir com Mozzila Firefox) para a Rádio Universitária do Minho, programa Sociedade Anónima. E eu? Eu resolvi fazer-lhe o mesmo. Ao contrário do que é normal, conhece-se ambas as partes. Parece-me justo, não?

Entrevista a Nelson Ferreira, locutor da Rádio Universitária do Minho. Um amante de música; um apaixonado pela vida e pela arte de comunicar; um homem à cata de talentos, em especial os que consegue captar num rasgo humano de cumplicidade.

1. Quem és? De onde vens? Para onde vais?
R - Nelson, prazer! Venho da província. “ninguém voa tão alto como aquele que não sabe para onde vai”….é para aí que quero ir.

2. Porquê Comunicação? Porquê Rádio?
R – Porque me pareceu fácil…Porque o faço sem grande esforço. Porque sou preguiçoso. Porque senti apelo pela rádio. Porque acho que é mais ou menos “colorido” trabalhar em rádio. Porque dar música pode influir no estado de espírito de quem a ouve.

3. Apenas Rádio?
R - Não. Mas prefiro dar a voz a dar a cara. Gosto de vozes…quase tanto como gosto de olhares. A palavra dita, falada, toca-me.

4. Falando tu para um público invisível, o que é que esta frase te diz: «Comunicar é tão somente olhar e perceber que do outro lado está uma bênção chamada cumplicidade.»
R - Diz-me muito. A ilusão de que podemos estar a “tocar” alguém é parte do fascínio de falar para essa massa invisível.

5. Sei que gostas de todo o terreno? Sempre foste apaixonado por esta modalidade ou já tiveste outras? Como é que esta surge na tua vida?
R – Gosto de TT pelo facto de nesta actividade conseguir ir onde os carros normais não vão. Consegue-se ir a miradouros inacessíveis. Consegue-se subir ao topo de uma montanha e ver o horizonte. E em toda a terra onde se passam os dias tipo formiga e tem-se essa visão de “Big Picture”. O acesso a sítios isolados onde o silêncio é maior e a natureza mais imponente. Claro que a paixão de infância pelos desportos motorizados também ajuda. Sei que é uma actividade +/- poluente mas faço-a em respeito pela natureza e prefiro-a à barbaridade das touradas ou caça de animais.

6. Porque é que Closer é um dos teus filmes de eleição? Que outros tens?
R – Porque é um filme autêntico, humano, real. Atraem-me os diálogos intensos. As relações humanas mais mundanas e as suas oscilações. O amor é um gajo estranho.
Dispenso com facilidade filmes de animação e ficção científica…
Contudo…a realidade bate sempre a ficção.

9. Viagem perfeita?
R – A de um casal apaixonado sem destino traçado.

10. O que é que lês?
R – Para além da Dica da Semana, os cadernos de cultura do “Público” e “Expresso”.
Publicações online de música. As frases feitas e discursos do Churchill.

11. O que é que mais te fascina em cada um dos teus sentidos:
Tacto: seda…adoro tecidos
Olfacto: Terra húmida, combustíveis durante uma corrida (estranho), um bom perfume de mulher, não muito doce.
Visão: Outros olhares.
Audição: Sussurros bem perto do ouvido. Música calma num ambiente com pouca luz.
Paladar: prefiro de longe os salgados aos doces.

12. O que é que mais te assusta?
R – Não tenho medos particulares. Mais anseios que medos.

13. Quais são os teus medos? (Sim, porque todos os temos)
R – Que as minhas ânsias virem medos.

14. Se tivesses que escolher, com qual desta características viverias e porquê:
Loucura ; Agorafobia; Bipolaridade.
R – À excepção da agorafobia já vivo com as outras duas e não abdicaria de nenhuma delas. Fazem de mim quem sou.

15. Que defeitos consideras fundamentais alguém possuir? E virtudes?
R - Aprecio os calculistas mas adoro os humanistas. Assim como é necessária alguma ingenuidade também o é alguma frieza.

16. Moves-te sob a escuta de que andar?
R – Infelizmente sob a péssima escolha musical do meu vizinho do andar de baixo. Inclui Rod Stewart, Chris de Burgh…

17. Porque é que gostas tanto de reticências? O que é que elas te transmitem? Usa-las muito na escrita. É defeito ou virtude?
R- Uso-as na escrita como no jazz se usa o silêncio. Servem para marcar os ritmos. Neste caso a intensidade e fluidez do discurso… dos significados daquilo que vou dizendo.

18. Apenas com 26 anos, o que é que te falta fazer?
R – Falta-me ver um concerto de David Bowie. Falta-me encontrar tanta gente que ainda quero conhecer. Falta-me conhecer melhor ainda aqueles que já encontrei.

19. Quatro músicas de eleição.
R - Todas do Mezzanine dos Massive Attack. Pela fase em que as ouvi…não a melhor da minha existência, mas porque mesmo depois disso mais de mil significados lhe acrescentei e gosto de todos eles.
As letras do Manuel Cruz dos Ornatos Violeta e de algumas do Reininho…sem esquecer o Carlos Tê. O sentimento bem Português na música não se fica pelo Fado.
As histórias quase poéticas dos Depeche Mode e dos Cure.
Grande parte da minha vida é a escolher músicas….para determinadas horas…para determinados objectivos.
A música de eleição pode ser diferente consoante o momento a que se destina.

20. Um vídeo
Björk - All is Full




quarta-feira, 26 de setembro de 2007

KORN - Evolution

Do último álbum dos Korn - "Untitled" - aqui fica o vídeo clip FANTÁSTICO.

sábado, 22 de setembro de 2007

Crónica de uma pergunta anunciada

Foi no programa da Paula Moura Pinheiro: Câmara Clara, assim se chama. E foi lá: foi. Foi lá que, numa sexta-feira destas – já no passado ano –, ouvi a questão que mudou os meus pensamentos; eco atrás de eco lá vai a "pergunta" subsistindo, rodeando todas as expectativas de vida, perguntando-se a ela própria.

A contextualização e explicação dada não me convenceram. Talvez porque não tenha encontrado o trilho para a cura da minha própria solução, mas – verdade seja dita – a resposta não me convenceu.
No debate desse dia 24 de Novembro (a tal sexta, a noite do referido programa), dois grandes escritores: José Eduardo Agualusa e Vasco Graça Moura. A "pergunta" era o mote. Cada um, com um estilo de vida oposto, seria capaz de escamotear as dúvidas que me assolavam? Oiço o genérico: fim. Parei e direccionei toda a absorção daquelas horas para a minha realidade. Pensei. Pensei que, efectivamente, cada um deles tinha o reconhecimento nas palavras. Mas nem assim consegui perceber. Fui pesquisar na net. O propósito? Com o intuito de ter uma resposta para a "pergunta", pretendia saber qual o número de publicações que um e outro tinham. Sou, indubitavelmente, uma mulher de letras, mas os números exercem um fascínio sobre mim.

Dois escritores.
Vasco Graça Moura, nascido em 1942, iniciou a sua obra em 1963 com o título Modo Mudando. A partir daí, entre Ensaios, Poesia, Romances e Traduções publicou mais 31 livros. Fazem parte da sua vida sete prémios nacionais e internacionais.
José Eduardo Agualusa, nascido em 1960, iniciou as suas publicações em 1989, com a obra A Conjura. Volvidos estes anos já trouxe a público 16 obras literárias, que variam entre Romances, Novelas, Contos, Crónicas e Poesias.

A resposta à pergunta.
Pesquisa feita, resolvi presentear-me com estatísticas. Se dividirmos o número de anos do percurso literário de cada um pelo número de obras publicadas encontramos os seguintes resultados: Vasco Graça Moura, que escreve há 44 anos, demora, em média, um ano e quatro meses a publicar nova obra; José Eduardo Agualusa, que escreve há 18 anos, demora cerca de um ano a trazer um novo livro a público. Eis a resposta à "pergunta": clara, factual e ali – à minha frente. A esta altura já deve o leitor estar farto de conjecturas e números, dado que em tantas palavras nunca a "pergunta" foi formulada. Será? Depois de toda esta explanação, sinto-me agora capaz de revelar a "pergunta". E note-se: a resposta soube-me bem. Não pelos números a que cheguei, mas porque era este o resultado que, no fundo, pretendia. José Eduardo Agualusa, o vencedor no rácio em cima mencionado. E, quando me refiro ao vencedor, não é ao homem em si, mas o que representa face ao debate da noite no programa: "A vida de escritor deve ser em regime de dedicação total – como acontece com José Eduardo Agualusa – ou conjugando com uma outra actividade profissional – como no caso de Vasco Graça Moura?" Aqui está ela, "a pergunta".

Toda esta dissertação vale o que vale: nada. Não serão necessárias estatísticas para revelar que ser escritor é ser único num misto de talento, vontade e trabalho árduo. Na escrita, "números" é somente mais uma palavra escrita no plural. Valha-me apenas isso.

in Empreender

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Eu e as viagens... enfim. Como gosto tanto de as fazer, mas nem sempre (quase nunca) faço todas as que quero, lá vou tendo uns amigos que vão e me enviam fotos e me contam histórias. O Meireles foi para o Brasil - Amazónia. O João foi para a Rússia - Sibéria. Fica o registo de imagens tiradas e escolhidas por cada um deles. Obrigada pelo previlégio. :)


O peso que paira sobre a silhueta num sopro de terra . Um traço delicado sem a sombra da mão humana. As nuvens sobrevoam o Baikal Lake, também conhecido por Olho Azul da Sibéria: apenas e só o lago mais fundo do mundo, património Mundial da UNESCO.






Um salto para o escuro, num escuro que é rio: água fertilizante de sorrisos e sabedorias. Eles saltam também pela inocência que os banha. Não procuram; encontram sem vasculhar, libertam-se ao largo de Manaus e abraçam o desconhecido na troca de uma civilização quase virgem. O rio Amazonas é assim mesmo: grande, fundo e escuro. Lindo.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007


Quantic. Álbum de 2004 - "Mishaps Happening"

Pois. Por sugestão da RUM ouvi. Gostei. Imenso. Mr. Holand no seu melhor a solo. Ouvi, sim senhor. Eram quase 9h00, no carro. Não consegui sair enquanto não acabou. E fiquei eléctrica, cheia de energia - daquela boa e que dá vontade de ir por aí e rir e falar e conviver, que é como quem diz ir pó cunbíbio.

Para quem gosta de funk aconselho Don't Joke with a Hungry Man

Clarinha e Inês (a mana) oiçam: vão curtir. Fico ansiosa por vos ouvir cantar esta. Aos pulos. Aos berros!!! :)

Viagens para as viagens

Tenho um amigo, escritor, que diz não gostar de viajar. Não gosta, ponto. Pelo menos, no sentido concreto do termo.
Uma vez tentei saber porquê. Perguntei-lhe como é que ele não se interessa por tantas outras formas de estar, de viver, de sentir, outros locais e belezas e/ou amarguras. «E quem disse que não?», foi a resposta complementada com, «Conheço tudo isso nas histórias que escrevo e que leio, no meu canto, em Guimarães».A discussão teve ainda alguns trâmites, mas a essência é esta: ele não gosta de viajar fisicamente – e não quer dizer que o não faça por circunstâncias alheias à vontade dele – porque prefere outro tipo de viagens que têm a ver com as palavras e os devaneios de uma alma de escritor. Pessoalmente, junto a isto mais um factor: desconfio que a necessidade que tem de escrever é tão grande que teme perder tempo nesse tipo de viagens que não as da imaginação.

Por outro lado, tenho um amigo, arquitecto, que passa a vida a viajar. É dinamarquês. Conhecemo-nos há 18 anos num intercâmbio cultural e, portanto, já nessa altura viajava. Viu o mundo inteiro: todos os continentes; diversos países dos diferentes continentes. Uma das viagens mais curiosas foi de bicicleta. Juntou-se a dois amigos, voaram até à América central e, durante três meses, percorreram uma série de cidades. Achei, no mínimo, apaixonante.
As conversas que temos tido ao longo de todos estes anos acabam, inevitavelmente, em viagens: eu a dizer, «Quem me dera poder viajar como tu», ele a retorquir, «Exageras nessa vontade; viajar não te acrescenta muito mais», ao que eu lhe digo, «Dizes isso porque o fazes constantemente e quando queres». E a discussão continua. O certo é que há pouco tempo disse-me algo que me calou e em que penso muitas vezes: «Não precisas de viajar para seres uma grande escritora. Tens no teu país um dos maiores escritores do mundo que nunca saiu do seu canto: Fernando Pessoa». Um dinamarquês falou-me em Pessoa, que adora ler.


Efectivamente, não me é difícil de perceber que projectamos, muitas vezes, aquilo que mais queremos ser para o desconhecido. Como se o fôssemos fazer, mas ainda estivesse longe, adormecido. Conseguimos ver, mas é ainda intocável. Aquilo que o meu amigo de Portugal me diz nas entrelinhas é que as coisas estão ao nosso alcance e uma vez palpáveis não são de desperdiçar; são para trabalhar. Aquilo que o meu amigo dinamarquês me quer transmitir é que uma vez alcançado o sonho verifica-se que não é assim tão subliminar como aparenta ser.O certo é que tenho mesmo esse desejo de viajar constantemente. E não me refiro a viagens paradisíacas. Gosto de contactar com o dia-a-dia das pessoas, com as culturas, hábitos e costumes.


O sonho de ser escritora não advém de projecções. Sinto que já o sou, não só pela necessidade que me acompanha, como pelo prazer que me arrebata. As palavras mexem com tudo o mais íntimo de mim. São terapia. São o que de mais Eu tenho. São viagens, são, as histórias que construo no meu canto.É possível que se já conhecesse o mundo inteiro, provavelmente iria dizer que não é assim tão fabuloso quanto penso. Mas sei, sem margem de dúvida, o que é que vou fazer ao papel que preenchi como voluntária internacional da AMI.

in Empreender

terça-feira, 31 de julho de 2007

Noite de Poesia
Um conceito. O conceito num rectângulo;
O Retângulo, Café.

Espreito de fora: rebuliço no interior de cada intimidade, nas pessoas que aceitaram o convite e foram ao Retângulo. É a Noite de Poesia.
Espreito; espreito muito para ver melhor. Um aglomerado que se vislumbra – sentados, de pé, nas esquinas e sofás, no degrau e em bancos altos - outros mais baixos -, nas mesas, por todo o lado: ânimos que se levantam, vozes que se erguem, e depois? Depois a melodia para embalar o corpo habitado pelo preenchimento do ser. Guitarra acústica, batuque e talento: combinação perfeita. Não oiço nada; estou de fora. Estou ainda cá fora envolvida num sossego que fala: como se o vazio morasse nas casas e só lá dentro estivesse o fluxo de energia quântica.
Estacionei o carro e continuo inerte do outro lado da rua do Retângulo; na distância de quem tem medo da exacerbação que junta as palavras.
Detenho-me mais uns segundos: vou? Ousarei fazer parte das frases musicais que percorrem os olhares no interior daquele espaço?
Entro. Não sou propriamente uma desconhecida, mas serei sempre estranha no mundo das letras. Porque quero sempre mais. Porque não há entendimento que alcance os arrepios da alma. Entro e percorro as gentes. Entro e sorrio. Entro e fico e sinto que este é o dia e percebo que ali é o lugar e absorvo os espaços em branco no caminho para a redenção.
Por mim, e pelos ouvidos dos amantes da arte, passaram nomes tão distintos como Alexandre O’Neill, Carlos Drummond de Andrade, Ary dos Santos, Herberto Hélder, Maria do Rosário Pereira, entre tantos outros.
Indispensáveis foram os cigarros numa tentativa de amainar a angústia por não haver mais declamação; indissociáveis foram as recordações como forma de criar pontes para a contemplação da essência humana. E soube bem o doce de ananás. Um doce conforta sempre os mais fracos. E eu sou fraca, sou. Por isso não contive as lágrimas ao sentir que aquela era também a minha casa, o lar de todos nós. A envolvência em todos nós.
----------------------------------------------------------
Retangulo Café
R. Escultor Antonio Fernandes de Sá, 238
GERVIDE
OLIVEIRA DO DOURO

Contactos
936645266
916424598

retangulo@retangulo.com

www.retangulo.com (em construção)

www.retangulocafe.blogspot.com (em destruição)

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Estive na Casa das Artes, em Famalicão, com ele e fiquei abismada. Uma pessoa simples: bem humorado e ainda incrédulo com o que a divulgação e solicitação no YouTube lhe causou. Transformou-lhe o dia-a-dia, levou-lhe o tempo - devolveu o sorriso que transpira na sublevação dos poros. Talento indiscutível; inigualável. Sensibilidade. Lindo. Merece tudo de nós, pobres: "...Roubei a um rico para a oferecer a todos nós pobres que mendigamos por um momento de autenticidade.”

http://www.youtube.com/watch?v=Ddn4MGaS3N4

http://www.youtube.com/watch?v=dt1fB62cGbo&mode=related&search=

sábado, 16 de junho de 2007

Um livro a ler. Um escritor a conhecer.

Pedro Chagas Freitas

«Os Dias Na Noite»

Inesperado.
Poucas serão as histórias que marcam; poucas serão as que nos acompanham. Esta é indelével: riqueza de carácter: nervo que nos atinge e dilacera.
A leitura oferece-nos a presença: somos observadores em terreno - como se estivéssemos no bar, como se víssemos os corpos nus e os seios rijos e o desejo e o sangue. Como se fôssemos a faca – objecto.
Há também nojo, repugnância: queremos ser o Torgado na postura indiferente que quer sempre fazer passar; queremos ser a língua de Filipa, estar na perspicácia, na frieza, no derrube; sermos nós em algumas palavras: renascer.
E depois, na viagem, o complemento da ausência numa bifurcação que completa e remata. Não que esse vazio seja sinónimo de crueza ou subversão; antes pelo contrário: é força; é o que traça a personalidade de uma obra inacabada porque gostaríamos que houvesse mais.
Acima de tudo, «Os Dias Na Noite», é imagem; construção sucessiva de cheiros e sabores onde, a pretexto de sexo, se vislumbra muito mais que simples orgasmos físicos – os chamados intelectuais: os melhores.
Inesperado, sim; sempre. Num fim que ataca: arrebata: consome.
Fica no ar a inquietude em forma de sorriso e recosto: livro aberto a fluir continuamente nas nossas vidas.

Oque'strada - recomenda-se.

http://www.myspace.com/oquestrada

O que é que faz uma guitarra portuguesa, uma viola acústica, uma contrabacia, um acórdeão e uma flor, todos juntos?
BOA MÚSICA PORTUGUESA!
Num só trago bebes uma amálgama cultural de raças, estilos, sons e musicalidades; Sempre com um sentido de humor bem apurado: inegável.
Mas não penses que para isso basta uma fórmula qualquer que conjugue as diferenças; não! A qualidade de qualquer um dos músicos leva-nos ao rubro das emoções - são fantasticamente conhecedores do mais pequeno acorde ou pormenor técnico. O jogo das combinações prima pelo imprevisto, pelas gargalhadas espontâneas que vão saindo; acima de tudo, pela evidente cumplicidade de quem esteve na estrada e nas ruas, durante cerca de dois anos.

Miranda, a Adorável e a sua Voz
Ela ilumina - e às vezes é mesmo assim, literalmente - as performances sonoras e incorpora as notas, nas notas.
Não há distância entre um palco qualitativamente recheado e o público sempre ávido de mais, mais, mais. A Marta faz questão de se misturar - aqui e ali - nos olhares das pessoas: encara-os, sorri-lhes, toca-nos ao ouvido. Ritmo no corpo suave e sincopado; contagiante.


Zeto, o Homem do Pescoço de Aço e a sua guitarra ritmica
Que dizer do líder cigano, do nigá amante, do executante exímio dos acordes, ritmos e actor? Tudo isto. Transforma-se em palco não se adivinhando nada do que sai do aparente low profile. A verdadeira caixa de surpresas ambulante: sim, porque também ele pouca parança tem em palco. A parceria que vai delineando em palco com a Marta resulta numa dança de sentidos; é gradual; é deliciosa; simples e complementar.

Lima, o Arquitecto e a sua guitarra portuguesa
Camisa vermelha. Homem magro. Nariz pessoano. Nos dedos a perfeição; no peito o talento de quem, à voz de muitas caretas e minutas de improvisação, consegue extrair do típico instrumento português ciclos quânticos de universalidade. Sentado apimenta cada um dos temas também com sons que primam pela diversidade: reinventa-se; reinventa-os.

Pablo, o Constructor e a sua contrabacia
Este elemento é, sem dúvida, o navegador português. Ao jeito do desenrasque - porque parece que se esqueceu do contrabaixo e com uma bacia, corda e um pau, «desen-merdou» qualquer coisa - lá se vai empoleirando e anunciando, qual marinheiro no seu imponente mastro. Extrai as notas como ninguém. Perguntamo-nos: como é possível?

Donatello, o Bom Vivant e o seu acórdeão
É ele quem mais enche a ambiência; é ele quem menos vemos. Mas é indubitável o seu poder e força. Em jeito de estrutura organizacional, atrever-me-ia e metaforiza-lo identificando com o estrato plebe: mantem o seu estatuto de conformidade, mas nas alturas certas revoluciona, faz barulho (no bom sentido, é claro) e instaura o caos dos sons.

Reformulo a ideia inicial: os O'queStrada não fazem só Boa Música Portuguesa; vão mais longe. Fazem música para todos: raças, etnias, culturas e gostos. São únicos e, no mínimo, diferentes.
O País agradece.

sábado, 21 de abril de 2007

Paulo Portas está grávido. E é já hoje que vai parir as criaturazinhas; sim: são gémeas.
Ao que apurámos, o líder da frente nacional Lava-Bem-O-Dentinho, deu entrada no hospital, ontem, mas apenas hoje será levada a cabo (resquícios ainda do cargo que ocupou no anterior executivo) a cesariana.
Entre o recreio do hospício, perdão, hospital, e o interior do edifício estão já centenas de curiosos do Fato-Azul – conhecido grupo de Cascais, Foz e afins – que aguardam fervorosamente. Fontes anónimas indicaram-nos que as criaturas já têm nomes: Derrota e Vitória. Na sala de parto estará apenas Ribeiro e Castro, eventual pai – no sentido lato da pessoa que assume total responsabilidade pelos seus actos – de uma das gémeas. (Soube-te bem andares lá antes nove meses antes não foi?).
Por (P)portas travessas soubemos que o grávido alega, com especial convicção, que a Vitória é só dele, que nunca teve ninguém na cama e que teve o dom de a conceber sozinho, qual Ave Maria que vem e salva a Pátria com um sucessor. Mas a coisa deu raia, quando o alegado pai se insurgiu dizendo que não pode assumir a Derrota sozinho e que não pode ser o único responsável por um acto em que (pelo menos) duas pessoas são intervenientes. A discussão foi tal que há quem diga – umas simples câmaras fotográficas, coisita pouca – que deu pancadaria; foi quando Portas começou a sentir o peso da gravidez com as primeiras pancadas internas. Qual Alien, qual quê.
Enfim, a nós, como a qualquer curioso, resta-nos esperar pelo desfecho final. O certo é que, perante a profunda discórdia, nenhum dos progenitores assumirá a paternidade dos dois filhos em simultâneo: Portas porque nutre já especial afecto pela Vitória, cuspindo veementemente na Derrota, por achar que é filha do ex-companheiro; Ribeiro e Castro porque não acredita que tendo exercido o prazer será pai de uma só, tendo contribuindo de forma indelével para as duas criaturazinhas que aí vêm. Nestas coisas tudo é dúbio e inesperado e nunca se sabe se num volt face qualquer, não será a Vitória a rejeitar o pai amado e a lançar-se nos braços de Castro, cabendo a Portas o doloroso percurso de caminhar ao lado da Derrota.
A ciência vai evoluindo, mas como diria o outro: há coisas do caneco.