sábado, 16 de junho de 2007

Um livro a ler. Um escritor a conhecer.

Pedro Chagas Freitas

«Os Dias Na Noite»

Inesperado.
Poucas serão as histórias que marcam; poucas serão as que nos acompanham. Esta é indelével: riqueza de carácter: nervo que nos atinge e dilacera.
A leitura oferece-nos a presença: somos observadores em terreno - como se estivéssemos no bar, como se víssemos os corpos nus e os seios rijos e o desejo e o sangue. Como se fôssemos a faca – objecto.
Há também nojo, repugnância: queremos ser o Torgado na postura indiferente que quer sempre fazer passar; queremos ser a língua de Filipa, estar na perspicácia, na frieza, no derrube; sermos nós em algumas palavras: renascer.
E depois, na viagem, o complemento da ausência numa bifurcação que completa e remata. Não que esse vazio seja sinónimo de crueza ou subversão; antes pelo contrário: é força; é o que traça a personalidade de uma obra inacabada porque gostaríamos que houvesse mais.
Acima de tudo, «Os Dias Na Noite», é imagem; construção sucessiva de cheiros e sabores onde, a pretexto de sexo, se vislumbra muito mais que simples orgasmos físicos – os chamados intelectuais: os melhores.
Inesperado, sim; sempre. Num fim que ataca: arrebata: consome.
Fica no ar a inquietude em forma de sorriso e recosto: livro aberto a fluir continuamente nas nossas vidas.

1 comentário:

Tiago Pereira da Silva disse...

Palavras de uma imensa riqueza...
Tudo o resto que possa acrescentar é um lugar vazio diante disso que se avista.
Gostei muito
bjs