sábado, 16 de junho de 2007

Um livro a ler. Um escritor a conhecer.

Pedro Chagas Freitas

«Os Dias Na Noite»

Inesperado.
Poucas serão as histórias que marcam; poucas serão as que nos acompanham. Esta é indelével: riqueza de carácter: nervo que nos atinge e dilacera.
A leitura oferece-nos a presença: somos observadores em terreno - como se estivéssemos no bar, como se víssemos os corpos nus e os seios rijos e o desejo e o sangue. Como se fôssemos a faca – objecto.
Há também nojo, repugnância: queremos ser o Torgado na postura indiferente que quer sempre fazer passar; queremos ser a língua de Filipa, estar na perspicácia, na frieza, no derrube; sermos nós em algumas palavras: renascer.
E depois, na viagem, o complemento da ausência numa bifurcação que completa e remata. Não que esse vazio seja sinónimo de crueza ou subversão; antes pelo contrário: é força; é o que traça a personalidade de uma obra inacabada porque gostaríamos que houvesse mais.
Acima de tudo, «Os Dias Na Noite», é imagem; construção sucessiva de cheiros e sabores onde, a pretexto de sexo, se vislumbra muito mais que simples orgasmos físicos – os chamados intelectuais: os melhores.
Inesperado, sim; sempre. Num fim que ataca: arrebata: consome.
Fica no ar a inquietude em forma de sorriso e recosto: livro aberto a fluir continuamente nas nossas vidas.

Oque'strada - recomenda-se.

http://www.myspace.com/oquestrada

O que é que faz uma guitarra portuguesa, uma viola acústica, uma contrabacia, um acórdeão e uma flor, todos juntos?
BOA MÚSICA PORTUGUESA!
Num só trago bebes uma amálgama cultural de raças, estilos, sons e musicalidades; Sempre com um sentido de humor bem apurado: inegável.
Mas não penses que para isso basta uma fórmula qualquer que conjugue as diferenças; não! A qualidade de qualquer um dos músicos leva-nos ao rubro das emoções - são fantasticamente conhecedores do mais pequeno acorde ou pormenor técnico. O jogo das combinações prima pelo imprevisto, pelas gargalhadas espontâneas que vão saindo; acima de tudo, pela evidente cumplicidade de quem esteve na estrada e nas ruas, durante cerca de dois anos.

Miranda, a Adorável e a sua Voz
Ela ilumina - e às vezes é mesmo assim, literalmente - as performances sonoras e incorpora as notas, nas notas.
Não há distância entre um palco qualitativamente recheado e o público sempre ávido de mais, mais, mais. A Marta faz questão de se misturar - aqui e ali - nos olhares das pessoas: encara-os, sorri-lhes, toca-nos ao ouvido. Ritmo no corpo suave e sincopado; contagiante.


Zeto, o Homem do Pescoço de Aço e a sua guitarra ritmica
Que dizer do líder cigano, do nigá amante, do executante exímio dos acordes, ritmos e actor? Tudo isto. Transforma-se em palco não se adivinhando nada do que sai do aparente low profile. A verdadeira caixa de surpresas ambulante: sim, porque também ele pouca parança tem em palco. A parceria que vai delineando em palco com a Marta resulta numa dança de sentidos; é gradual; é deliciosa; simples e complementar.

Lima, o Arquitecto e a sua guitarra portuguesa
Camisa vermelha. Homem magro. Nariz pessoano. Nos dedos a perfeição; no peito o talento de quem, à voz de muitas caretas e minutas de improvisação, consegue extrair do típico instrumento português ciclos quânticos de universalidade. Sentado apimenta cada um dos temas também com sons que primam pela diversidade: reinventa-se; reinventa-os.

Pablo, o Constructor e a sua contrabacia
Este elemento é, sem dúvida, o navegador português. Ao jeito do desenrasque - porque parece que se esqueceu do contrabaixo e com uma bacia, corda e um pau, «desen-merdou» qualquer coisa - lá se vai empoleirando e anunciando, qual marinheiro no seu imponente mastro. Extrai as notas como ninguém. Perguntamo-nos: como é possível?

Donatello, o Bom Vivant e o seu acórdeão
É ele quem mais enche a ambiência; é ele quem menos vemos. Mas é indubitável o seu poder e força. Em jeito de estrutura organizacional, atrever-me-ia e metaforiza-lo identificando com o estrato plebe: mantem o seu estatuto de conformidade, mas nas alturas certas revoluciona, faz barulho (no bom sentido, é claro) e instaura o caos dos sons.

Reformulo a ideia inicial: os O'queStrada não fazem só Boa Música Portuguesa; vão mais longe. Fazem música para todos: raças, etnias, culturas e gostos. São únicos e, no mínimo, diferentes.
O País agradece.